31 de março de 2011

PÉS NO CHÃO


(Para minha Kim)

A vida me ensinou muitas coisas 
que não aprendi com meus pais 
e muito menos com os professores 
na sala de aula.
Descobri que estar sozinha não é ser só 
e que a pior solidão 
é aquela que sentimos ao lado de alguém.

Perdi o fôlego ao investigar o mundo imenso 
que me aguardava do lado de fora da minha casa.
Quando era menina e brincava no sótão 
me perdia no mundo de sonhos...
Hoje ele está tão pequeno!

Caminho entre sombras e pensamentos...
Percebo a crescente distância 
que me afasta da menina que um dia eu fui.
Cresci... 
meus ideais e desejos também cresceram.
Meus pés estão no chão e meu coração 
está aberto para novas conquistas.

Essa sou eu...
Uma menina desvendando aos poucos 
a mulher escondida dentro de si.

Janaína da Cunha
26/08/2009

Foto: Kim Kamberlly

29 de março de 2011

TRIBUTO À AMIZADE


(aos verdadeiros amigos)


Um deserto obriga minha alma a peregrinar;
um oceano mistifica os segredos 
criados pelo coração.

Mas como evitar?

Tão escorregadia essa vida;
tão sólida a solidão!

O que seria da tristeza doída
sem ninguém para consolar?
Que seria das lágrimas quentes
sem mãos ardentes para enxugar?

O que seria do medo sem os braços estendidos,
sem os ombros desinteressados,
sem a guarida de um amigo?

Quem pode desvendar o valor de uma amizade?

A policromia da nossa pele
é o arco-íris natural da cidade.
As diferenças nos fazem iguais;
nossa distância nos aproxima.

Meus pés encontram suas pegadas,
meu corpo se curva em tributo
ao entardecer na estrada.

A música do tempo vai se findando...
O Maestro descansa,
mas o último ato só está começando.

Que o sangue, vinho tinto,
na taça corrente em nossas veias,
brinde o sopro santo, divino
que em nossas almas incendeia.

E nos braços do verdadeiro amigo,
ao findar a última centelha da caminhada,
no derradeiro adeus,
envolvida pelo seu sorriso,
quero nos seus olhos ser velada!

Janaína da Cunha
Setembro/2002

Foto: Kim Kamberlly

28 de março de 2011

A PERDA DA INOCÊNCIA




(ao meu pai Euclydes R. da Cunha Neto)

Eu vi uma pássaro cantando no túmulo de um pai.
Vi as lágrimas de uma mulher 
e a inocência de uma criança.
Eu vi a amargura de uma mãe no fim do mês.
Vi a panela vazia no fogão 
e a "sujeira" debaixo do tapete.

Também vi a filha de alguém 
sozinha na multidão,
não pedia nada a ninguém... apenas estava lá.
Observei pessoas passando indiferentes,
apressadas, não viam ninguém... 
apenas passavam.

Eu vi a perda da inocência.
Vi as promessas de um político 
e a incredulidade de um povo.
Observei a fome brindando nas esquinas
e a ambição escravizando o coração do tolo.

Eu vi o círculo fechando,
as cenas se encontrando,
a vida repetindo...

Eu vi...

Vi uma menina crescendo,
uma senhora me olhando...
Eu vi a minha imagem no espelho!

Janaína da Cunha
Novembro / 2001
Foto conseguida na net


27 de março de 2011

SEXO VINHO E POESIA


Faço-me fêmea por seu encanto.
Faço-me poluidora 
de minha própria santidade.
Tenho fome de seu corpo, 
tenho sede de seus anseios...
Seu olhar me instiga a beber do vinho 
que jorra em seu peito poeta.

A lua cheia brinda a noite escura
e no olhar de dois bardos boêmios 
o desejo está cheio de lua.
A fome profana a santidade da carne
e as almas que se encontram 
clamam por liberdade.

Qual o poeta que pode ter o luxo de 
aprisionar-se nas ratoeiras sujas e hipócritas do amor imposto pela sociedade?
A arte liberta e os poetas se embriagam dela insultando a crença de todos os mortais.

Esfrego meu corpo em seu corpo 
e misturo meu suor ao seu
poetizando o tesão numa 
cadência deliciosa de movimentos.

Há uma poesia inacabada em minha alma.
Há um desejo incontrolável 
de puta reprimida em minha carne.
Não quero mais me esconder 
em máscaras puritanas,
nem refrear minha fome 
selvagem e desvairada.


Sou o que sou.
Devore-me!
Sorva toda eternidade que há em mim.


Entrego em suas mãos meus segredos
e revelo à seu falo 
o lirismo de minhas fantasias.
Brinde... sugue...
deleite-se da divindade 
pagã entre minhas entranhas.

Desvende aos poucos 
(e para sempre!) 
a pecadora sensual e faminta.


As horas percorrem soltas 
entre gemidos e gozos.
Exausta de prazer, descanso.
Adormeço velada 
por seus olhos esfomeados.


A taça está vazia, 
mas ainda há vinho 
no altar promíscuo de Dionísio.

Janaína da Cunha
22/03/2011
Foto conseguida na net