26 de março de 2012

MENINA DAS ROSAS


(para uma menina vendedora de flores na Praça São João, em Niterói)

Menina das rosas com os pés no chão.
Cabelos ao vento na Rua São João.
Rosa menina, menina tão prosa:
"Vendo o perfume... de graça são as rosas!"

Rosas rosadas...
Roupas remendadas de sentimentos esquecidos;
cores desbotadas de amores perdidos.
Rosas vermelhas...
na sala perfumada os sonhos permeia.
Pétalas de um mito, paixão sem juízo.
Pétalas sentidas... guardadas nas páginas de um livro!

Menina Rosa... Rosa levada!
Olhar profundo... roda a saia...
Gira o mundo...
Borda no céu as rendas das flores:
"Para a dor mais mel;
para a vida mais amores!"

Janaína da Cunha
Julho/2002


25 de março de 2012

ESSA NOITE: MULHER DE MIM


Esta noite não chorarei...

Vestir-me-ei de azul-mar
e clarearei a escuridão do céu.
Hoje não lamentarei!
Adoçarei as amarguras com mel
e embriagar-me-ei com o perfume de rosas e jasmim.

Esta noite serei fêmea de mim!
Mãe, filha, amante.
Mulher e menina sem fim.
Um anjo, um demônio...
alternando entre o pecado e a salvação.
Desfilarei sobre as blasfêmias
e recuperarei os sonhos que se perderam na desilusão!

Esta noite será diferente:
não ousarei chorar!
Sorrirei o riso dos inocentes
e beberei a coragem das heroínas da história.
Aninhar-me-ei nos braços da vida,
serei ferro, barro, água...
terei o brilho de uma joia!
Esquecerei todas as dores do mundo,
revelar-me-ei no raso,
no meio e no profundo.

Esta noite serei mais EU!
Enfrentarei o que passou;
reconstruirei o que sobrou dos erros.

Hoje à noite
serei a estrela mais brilhante.
Não me importarei com insultos,
nem com ações humilhantes.

Seguirei minha estrada;
abrirei espaços;
criarei caminhos!

Esta noite será minha.
Minha e de mais n-i-n-g-u-é-m!
Acordei pela manhã
e enxerguei minha essência no espelho...
abracei-me feliz.

AMO-ME!

Dei adeus às mágoas de outrora:
Adeus, adeus...!

Hoje serei dia;
serei noite.
Construirei meu céu!

Bem vinda, vida!

Janaína da Cunha
Agosto/2007

18 de março de 2012

O ULTIMATO DA DOR


(Às vítimas inocentes da camuflada e vergonhosa guerra civil do Rio de Janeiro)

Caminham nas estradas sem rumo,
coadjuvantes vidas.
Entre ciladas amargas
nos palcos sombrios encenam a lida,
que destacam na cicatriz a lembrança da ferida.

Peregrina o morador
dos morros, pontes e ruas.
Isolam tempestades infectadas
na carne mórbida, fria e nua.

Doentes da ganância pela fome do dinheiro,
a dignidade lamenta seus filhos e o orgulho enfeita bueiros!
O poder degenera-se...
Na ausência do governo a miséria cria suas leis.

Segue em disfarces a justiça armada.
Mães choram dentro de ambulâncias
e o ódio transforma inocentes em vítimas.
Tiros despertam a vingança...
balas perdidas arrancam dos olhos carentes
o último dó da esperança!

A dor dá seu ultimato.
O sangue escorre...
A vida apresenta seu último ato.

Um estranho olha a morte...
Observa em sigilo o pobre peregrino.
Nasce com seu 'destino' traçado
e desenha em compassos discriminados riscados,

às margens da sociedade
coadjuvantes suspiram lamentos.
Heróis anônimos surgem das lágrimas,
resistem ao vento...
e na contramão da vida continuam sobrevivendo!

Janaína da Cunha
Novembro/2006



15 de março de 2012

FLOR DO DESEJO


Tua boca profere mentiras
que meu coração deseja ouvir.
Minha voz em teus ouvidos reafirma
o que tua rigidez não deixa fingir.
Tuas mãos são bálsamos;
o carinho do teu corpo é azeite doce, morno...
Esse é o meu homem!
Acalante minha carne trêmula
nas virtudes insaciáveis do prazer.
Regue minha flor do desejo;
redima a cobiça febril que se abre em devaneios!
No meu pescoço tua boca segue suave,
perdida, amável...
Descansa tua língua brincalhona
na carne macia dos meus seios.
Cura essa malícia que cresce insolente, insaciável.
Tenho fome; tenho sede.
Eis meu homem!
Em gemidos brindamos à luxúria;
no vaivém dos nossos corpos despertamos o deleite.
Bem-vindo gozo!
União ilícita... um encaixe perfeito!
Nesse pecado santo germina um fruto doce,
completo e intenso.
Entre minhas pernas, sob seus beijos,
descansa em mim a natureza mãe: a flor do desejo!

Janaína da Cunha
Outubro/2002

14 de março de 2012

MORDIDA NA MAÇÃ


Sutil,
chego assim:
sedenta, molhada... um fogo dentro de mim!
A roupa vermelha na pele incendeia.
O desejo é uma mordida
na tua boca de carmim.
Teu corpo tem gosto de fruta proibida,
maçã dos outros,
sabor do pecado
que embriaga... me excita!

Janaína da Cunha
Outubro/2002

11 de março de 2012

PRECONCEITO


Não me julgue pela minha imagem...
essência não se vê, se sente.
É fácil criticar o que não se conhece
ou se calar diante do incompreendido.
Minha natureza vai além de mim...
sou bem melhor do que minha reputação!
Eu sou meu caráter
e a criação que recebi dos meus pais.
Sou a família, a tesoura que corta as vendas
e os valores sem hipocrisia.
Sou o amor sem sexo ou nexo... uma ideia sem ideologia.
Tenho a cor do arco-íris, a força de um sorriso
e a fragilidade de uma rocha.
Sou um livro a ser lido com versos inacabados.
Eu sou a vida!

Janaína da Cunha
09/11/2009

7 de março de 2012

O HOMEM O MAR E OS SONHOS


Um dia, em frente ao mar, estava envolvida nas minhas análises e cogitações sobre a posição do homem diante da vida, quando me deparei observando as diferentes reações dos banhistas. Notei que alguns paravam para admirar a beleza do mar, mas não se arriscavam a entrar e enfrentar os segredos escondidos em suas águas. Outros não resistiam aos encantos; porém, o medo os impedia de mergulhar, só entravam pela metade. Havia também um grupo de pessoas que mergulhavam destemidamente e reapareciam longe, tomavam fôlego e voltavam a submergir em busca do desconhecido, do fascinante.

Na vida não é diferente. Existe o homem que vive à sombra de dúvidas e temores. Ele teme o que não compreende em vez de admitir suas próprias fraquezas e buscar mudanças. Coloca-se sempre em posição de vítima da vida sendo ele o próprio culpado por seus fracassos. Ama o belo, almeja a felicidade, mas não tem coragem de arriscar um mergulho, nem ao menos a entrar na água. Não vive; sobrevive.

Há também quem vive sua vida pela metade. Sonha, ama, deseja, mas nunca de corpo e alma. Esconde-se na delicada capa do bom-senso, atitude que, na verdade, denominamos MEDO. Medo de se aventurar pelo diferente e pelo desconhecido; medo de viver por inteiro. Quem entra no mar e não mergulha volta pra casa sem saber o que poderia ter desvendado; quem vive pela metade não sabe o que é viver de verdade.

O homem que mergulha de cabeça na vida é chamado de insensato e louco. Não importa os conselhos que recebe; ele não avalia os prejuízos e arrisca, apenas segue a voz do coração e se joga por inteiro. Às vezes, por mergulhar de olhos fechados, ele se desvia da sua trajetória e erra, retorna machucado, analisa onde errou, mas não desiste de buscar a felicidade. Ele não mede esforços para realizar seus sonhos e alcançar seus objetivos. Mergulha novamente, contudo, dessa vez mais experiente e consciente, de olhos bem abertos. Quando se cansa e perde o fôlego, descansa, recobra as energias e está pronto para recomeçar quantas vezes for necessário até que sua determinação o leve às águas calmas da realização e da satisfação pessoal.

Qual a sua posição diante da vida? Não transforme seus medos em covardia. Não há idade para recomeçar. Viva sem desistir da vida e aproveite cada segundo da sua existência para se fazer feliz: afinal, os sonhos só morrem no túmulo!

Janaína da Cunha
22/08/2009