18 de março de 2012

O ULTIMATO DA DOR


(Às vítimas inocentes da camuflada e vergonhosa guerra civil do Rio de Janeiro)

Caminham nas estradas sem rumo,
coadjuvantes vidas.
Entre ciladas amargas
nos palcos sombrios encenam a lida,
que destacam na cicatriz a lembrança da ferida.

Peregrina o morador
dos morros, pontes e ruas.
Isolam tempestades infectadas
na carne mórbida, fria e nua.

Doentes da ganância pela fome do dinheiro,
a dignidade lamenta seus filhos e o orgulho enfeita bueiros!
O poder degenera-se...
Na ausência do governo a miséria cria suas leis.

Segue em disfarces a justiça armada.
Mães choram dentro de ambulâncias
e o ódio transforma inocentes em vítimas.
Tiros despertam a vingança...
balas perdidas arrancam dos olhos carentes
o último dó da esperança!

A dor dá seu ultimato.
O sangue escorre...
A vida apresenta seu último ato.

Um estranho olha a morte...
Observa em sigilo o pobre peregrino.
Nasce com seu 'destino' traçado
e desenha em compassos discriminados riscados,

às margens da sociedade
coadjuvantes suspiram lamentos.
Heróis anônimos surgem das lágrimas,
resistem ao vento...
e na contramão da vida continuam sobrevivendo!

Janaína da Cunha
Novembro/2006



2 comentários:

Felisberto T. Nagata disse...

Olá!Bom dia!
Belo relato!
Ficou maravilhoso em contexto poético!
Penso que esta guerra civil, ora camuflada, ora deflagada, é em virtude de que as políticas e planos de repressão do governo estão longe de uma solução sensata. As UPP’s (Unidades de Polícia Pacificadora), buscam minimizar, instaurando forma diferente de se fazer segurança pública.
Porém, essas ações de nada adiantam sem uma mudança nas bases do problema. As populações das periferias continuam recebendo uma educação falida e sem perspectiva.A educação é o primeiro passo para a resolução de qualquer situação. Continuaremos com essas demonstrações inaceitáveis de insegurança e descontentamento, que faz com que pessoas, com grande força e potencial, destinem seu ímpeto à revolta, destruição e anarquia.
Boa terça!
Beijos!

Janaína da Cunha disse...

Olá Felisberto!
Concordo com seu ponto de vista. E o mais interessante é que essa poesia não é nova, é de 2006 e continua atual. Foi bem antes da chamada "política de pacificação".
A educação e a cultura são a base de um alicerce sólido em bem fundamentado.
Por isso que nós, artistas de alma, existimos. Somos contestadores por natureza, somos o dedo indicador que cutuca as feridas da sociedade. Somos seus olhos, ouvidos, movimentos e o grito preso na garganta dos menos favorecidos.

Obrigada pela visita e sábias palavras.
Seja sempre bem vindo, poeta!
Beijos!