14 de julho de 2011

METAMORFOSE


Meus desejos seguem em reticências num espiral de agonia.
Sou uma metamorfose de minhas incógnitas...
Uma mutação desordenada de conjecturas filosóficas.

Para que viver se não existo 
na complexidade de uma mulher livre?

No ultimo suspiro de condenação da minha obscuridade
sigo por caminhos tortuosos
em direção ao cadafalso de minha consciência.

Pressinto a sombra de demônios 
que sedutoramente me cobiçam.
Tenho a sensação de que nada pode me salvar...
Numa tentativa desesperada,
pego um papel e uma caneta para expurgar os fantasmas
que habitam no abismo do meu ser.

Olhos conhecidos me denunciam...
Bocas amigas me julgam...
Ninguém conhece as cicatrizes que carrego na alma
e nem imagina a luta incessante que enfrento
toda vez ao me ver no espelho.

Quem é essa imagem refletida?
Quem realmente eu sou?

Sobrevivo num redemoinho de emoções...
Vivo numa confusão feroz de sentimentos... 
mas sigo em frente!
Sigo em frente na contramão do ser e do querer.
Sigo em frente na contradição da prática e da teoria.

Minha vontade firme de expandir-me 
ao encontro dos meus sonhos
é muito maior do que a fraqueza 
antropológica que me persegue!
Estou cansada de ser uma caricatura de mim mesma
esperando a original sair do casulo.
Ainda sou larva em transformação moral.

Salve, salve *Beauvoir!
Se tu conseguistes... também conseguirei!

Janaína da Cunha
13/07/2011

* Simone de Beauvoir: escritora, filósofa existencialista e feminista francesa. Escreveu romances, monografias sobre filosofia, política, sociedade, ensaios, biografias e uma autobiografia. Companheira de Jean-Paul Sartre.

* Foto conseguida na net

7 de julho de 2011

PISANDO DESCALÇA EM ESPINHOS


Onde foram parar as pétalas das rosas 
que tu me destes?
O amor murchou como a rosa vermelha
que um dia enfeitou meus cabelos.
Os versos que tu escrevestes 
com a língua em meu corpo
se apagaram...
e o vinho transformou-se em sangue tinto!

Piso descalça em lembranças
e a saudade me fere como espinhos.
Sinto falta das tuas verdades mentirosas
e do teu desejo despretensioso 
tocando minha carne nua.

Promessas nascidas na cama, 
nela permanecem...
Palavras ditas no deleite de um orgasmo 
com ele morrem...
Morrem?

No amanhecer assassino um sentimento,
mas deixo outro no seu lugar florescer.
Continuo caminhando descalça em espinhos
porque prefiro sofrer por amor 
do que viver sem existir!


Janaína da Cunha
07/07/2011
Foto conseguida na net

6 de julho de 2011

ANJO NEGRO


Percorri caminhos sem rumo...
sem ter certeza de chegar...
sem ter para onde voltar.
Circulei os desatinos de minha alma
sorvendo lentamente o cálice letal de minhas dores.

Só há perdão quando existe arrependimento.
Só há cura quando existe uma enfermidade.

Negro Anjo de embriagues lasciva,
asas caídas e alma ferida... encontrei-te!
Disse-me: "Segura minha mão e vem!"

Encantei-me com a escuridão do teu olhar
e tornei-me lua na noite dos teus versos.
No reverso de formas inexpressivas,
meu coração 
- que aparentava estar morto - 
restituiu-se purificado à vida!

Janaína da Cunha
06/07/2011